No sítio Roda d’Chuva, localizado na região noroeste do Paraná, o cultivo de grãos convive harmoniosamente com a apicultura. Murado de 80 colmeias são mantidas nas áreas de preservação da propriedade, no município de Floresta, e fazem segmento de uma tradição da família Jung. Essa integração entre abelhas e culturas de soja e milho tem se mostrado um diferencial, aumentando a produção de grãos e proporcionando benefícios ambientais e econômicos.
Até os anos 1970, o sítio, pertencente a João Jung, era devotado ao cultivo de moca e os filhos, Antônio e João Rebento, mantinham algumas colmeias na propriedade. Depois a geada negra de 1975, que comprometeu a plantação, os proprietários iniciaram o cultivo de soja, mantendo as colmeias. A prática intuitiva de manejo das abelhas, evitando a emprego de defensivos quando elas estavam em campo, foi aprimorada na dez de 1990 com orientações de um extensionista da Emater (hoje IDR-Paraná).
Atualmente, a terceira geração da família, representada por Lígia e Paulo, filhos de Antônio, administra a propriedade. Formada em Agronomia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Lígia observa que a presença das abelhas nas proximidades das colmeias aumenta a produção de soja. Segundo ela, as abelhas e a soja se beneficiam mutuamente, resultando em colheitas maiores de mel e soja.
Pesquisa comprova benefícios
Pesquisas conduzidas pela Embrapa Soja confirmam que, apesar de a soja ser uma vegetal autofecundante, as abelhas aumentam a produtividade das vagens, resultando em um incremento médio de 13%. As vagens, que normalmente produzem três grãos, passam a ter quatro ou cinco grãos quando polinizadas por abelhas.
Na propriedade da família Jung, são mantidas colmeias com abelhas europeias e espécies nativas sem ferrão. Atualmente, a produção de mel é de 2 milénio quilos, representando 20% da renda da propriedade.
A marca Mel Floresta, registrada no Sistema de Inspeção Municipal (SIM), é comercializada na região e garante a sustentabilidade financeira da família, mormente quando os preços da soja não são favoráveis.
Desafios e gestão integrada
Manter colmeias em áreas de cultivo de soja nem sempre é fácil. Em 2009, os proprietários perderam 50% das colmeias devido à deriva de defensivos de outras propriedades. Lígia Jung afirma que a persistência com a apicultura foi mantida devido ao valor da marca regional de mel. Segundo ela, a pesquisa já comprova que a parceria entre abelhas e soja é benéfica.
Eduardo Mazzuchelli, coordenador regional de Lavouras do IDR-Paraná, destaca que o papel do instituto é incentivar outros produtores a adotarem o protótipo de consórcio abelhas-grãos, divulgando suas vantagens. Em reconhecimento ao trabalho realizado, a propriedade ganhou o prêmio Orgulho da Terreno em 2022.
Abelhas uma vez que aliadas da produtividade
De entendimento com a Embrapa Soja, a flor de soja contém néctar de qualidade, com açúcares e outras substâncias necessárias para o desenvolvimento das abelhas. Uma vegetal de soja pode ter mais de 50 flores, e a produção de néctar pode ultrapassar 6 litros por hectare por dia, durante a floração plena. Apicultores que colocam apiários perto de lavouras de soja colhem até 50 kg de mel por colmeia, mais do que o duplo da média brasileira.
Os estudos mostram que as abelhas agem uma vez que polinizadoras ao coletar néctar da soja, aumentando a produtividade em até 18%. Aliás, o peso dos grãos aumenta, resultando em maior renda para os agricultores sem a premência de novos insumos. A proteção das abelhas também contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa, ao aumentar a produção na mesma dimensão.
Boas práticas agrícolas e apícolas
Para integrar a geração de abelhas à soja, é forçoso seguir boas práticas agrícolas e apícolas. As orientações do manejo integrado de pragas da soja e as recomendações da tecnologia de emprego devem ser observadas para evitar impactos negativos nas abelhas. A informação entre apicultores e agricultores é fundamental para prometer a segurança das abelhas e a produção de mel.