Do exílio na Espanha, o líder da oposição da Venezuela se sentou com a CNN na quinta-feira (17), quando falou sobre o “pesadelo” de seus últimos dias em Caracas e sobre a esperança de encontrar uma solução para a crise política da Venezuela.
Em sua primeira entrevista para a televisão desde que deixou a Venezuela, Edmundo González Urrutia explicou o papel do governo espanhol em sua saída do país. O ex-diplomata também reiterou que acredita ser “mais útil fora do que dentro”, livre e não represado, para resolver a crise política da Venezuela.
A Venezuela está em crise desde a eleição presidencial de julho do país, na qual o dominador titular Nicolás Maduro foi enunciado vencedor pela mando eleitoral do país — um órgão repleto de seus aliados — com 51% dos votos.
Mas dezenas de milhares de contagens publicadas pela oposição sugeriram uma vitória para González. A oposição da Venezuela e vários líderes latino-americanos se recusaram a reconhecer a vitória de Maduro, o que desencadeou protestos mortais durante os quais milhares foram presos.
‘Tive que negociar com os enviados do regime’
González descreveu os dias antes de fugir de seu país natal. Ele primeiro se refugiou na embaixada holandesa porque tinha três intimações do Ministério Público venezuelano e um mandado de prisão. “O que me esperava era a invasão da minha lar”, afirmou. Ele afirma que ficou na embaixada holandesa por 32 dias “sem que ninguém percebesse que eu estava lá”.
Mais tarde, com sua esposa e equipe, ele decidiu que “a melhor opção era buscar asilo em um país companheiro porquê o Reino da Espanha”. Depois de dois dias na residência do mensageiro espanhol em Caracas, González conseguiu deixar a Venezuela depois assinar um documento na embaixada espanhola “que inicialmente seria secreto”, mas “aqueles que assinaram em nome do governo se encarregaram de propalar”.
O documento em questão aceita a decisão da Câmara Eleitoral do Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela (TSJ), que ratificou a vitória do presidente Maduro nas eleições de 28 de julho. O governo venezuelano ainda não forneceu resultados detalhados por meio de votação ou “mesa” para concordar esse pregão.
Em setembro, González disse nas redes sociais que assinou o documento depois várias horas “de coerção, chantagem e pressão” na presença da vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, e seu irmão Jorge Rodríguez, presidente da Reunião Vernáculo.
“Tive que negociar com os enviados do regime” para deixar o país, disse ele. “O fraco permitido ali era eu: ou eu assinava esse [documento] ou não saía.”
A versão dos eventos compartilhada pelo presidente da Reunião Vernáculo da Venezuela, Jorge Rodríguez, difere de González. Em 18 de setembro, o representante de Maduro garantiu em uma entrevista coletiva que eles não haviam imposto o ex-diplomata e que foi ele quem decidiu entrar em contato com o governo.
González disse que nunca solicitou especificamente a presença de Delcy e Jorge Rodríguez na reunião.
Naquela entrevista coletiva de setembro, o principal representante do Parlamento venezuelano mostrou várias imagens da reunião com González. O ex-diplomata disse à CNN que não sabe quem tirou as fotos e não achava que elas seriam usadas pelo governo.
“Eram somente quatro pessoas, logo alguém as tirou sem a devida autorização do anfitrião, o próprio mensageiro”, disse ele.
O ex-diplomata disse que suas últimas horas na Venezuela “foram muito tensas” porque ele enfrentou a perspectiva de deixar o país livremente com sua esposa ou permanecer na embaixada “sem a possibilidade de transpor”.
Ele disse que no aeroporto, ele estava somente esperando para embarcar no avião “para perfazer com esse pesadelo”.
María Corina Machado iria para o exílio? González espera que não
González disse que deixar o país foi uma decisão pessoal “que era propício manter em sigilo”, logo ele só informou María Corina Machado — que foi desqualificada de concorrer nas eleições e apoiou a campanha de González — dois dias antes de sua partida.
González disse que explicou seus motivos a ela, e o líder da oposição concordou.
O candidato disse que manteve contato “permanente” com Machado e que eles têm um relacionamento muito fluido.
Na quarta-feira, Machado negou ter fugido da Venezuela, porquê Maduro alegou anteriormente.
“Os venezuelanos sabem que estou cá na Venezuela, as pessoas sabem, e Nicolás Maduro também sabe, mas eles estão desesperados para saber onde estou, e eu não darei a eles essa satisfação”, disse ela à rede EVTV da Flórida.
O exílio seria o horizonte de Machado? “Espero que não”, disse González, afirmando que não discutiu esse cenário com ela.
O papel do governo espanhol
O Ministério das Relações Exteriores da Espanha informou à CNN em setembro que “o governo espanhol não tem zero a ver com nenhum documento ou negociação entre Edmundo González e o governo venezuelano”.
Esta semana, a CNN perguntou a Cristina Narbona, presidente do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), sobre a viagem da vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, à Espanha em 2020, que a Guarda Social Espanhola ainda está investigando quatro anos depois.
Narbona disse que sabe que “o vice-presidente parou por algumas horas no Aeroporto de Barajas” em Madri, mas ela “não tem mais informações do que as que surgiram ao longo do tempo”.
Para Narbona, o asilo político outorgado pela Espanha a González o beneficia porque “ele vivia sob prenúncio e queria deixar a Venezuela”. Os partidos de oposição espanhóis, porquê o conservador Partido Popular [PP] e o de extrema direita Vox, acusaram o governo espanhol de somente ajudar o regime de Maduro com o asilo de González.
“Eu me vi no meio da diatribe entre as duas principais forças políticas na Espanha”, disse González, acrescentando que o governo espanhol lhe forneceu todas as facilidades em seu exílio.
Em 18 de setembro, o Senado espanhol aprovou por maioria uma moção apresentada pelo Partido Popular instando o governo espanhol a reconhecer González porquê presidente eleito da Venezuela.
O ex-diplomata disse que não sabe se o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez está mediando com o regime de Nicolás Maduro. Ele reiterou que considera o diálogo sempre uma utensílio para resolver uma crise política e diz que apoia o “importante esforço” dos governos colombiano e brasílico para encontrar uma solução.
Meta de González: 10 de janeiro
González disse que ele e a oposição exilada estão trabalhando para respeitar a vontade “dos quase 8 milhões que votaram por uma mudança pacífica”. A meta, ele diz, é estar na Venezuela em 10 de janeiro para a posse.
O Recomendação Vernáculo Eleitoral da Venezuela (CNE), controlado pelo chavismo, diz que Maduro venceu com 51,95% dos votos contra 43,18% de González, embora ainda não tenha publicado resultados detalhados. Oriente resultado é questionado por grande segmento da comunidade internacional por sua falta de transparência.
A oposição argumenta que obteve 83,5% dos registros por meio de suas testemunhas eleitorais no dia da eleição. Especialistas consultados pela CNN disseram que seus números fazem sentido matematicamente e estatisticamente.
Sobre os números oficiais, González diz que “não há evidências para provar que eles [o regime de Maduro] venceram”.
O candidato da oposição disse que uma posse no exílio não foi considerada. Ao mesmo tempo, a possibilidade de não estar na Venezuela em 10 de janeiro “é um cenário que não consideramos”, mas ele está abordando isso com “frieza e mente fresca”.