A CNN teve chegada aos 52 áudios da investigação da Polícia Federalista (PF) que revelou o projecto para a realização de um golpe de Estado no país posteriormente a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022.
As gravações revelam conversas entre Mauro Cid, tenente-coronel e ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Mario Fernandes, general e indigitado porquê articulador do projecto golpista, além de outro militares de subida patente.
Ouça os áudios da trama golpista:
Mauro Cid: Golpe “teria que ser antes do dia 12”
Cid sinalizou que uma “consumação” do suposto golpe de Estado teria que ser “antes do dia 12” de dezembro”, se referindo à data da diplomação da placa de Lula e do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Pode deixar, general. Vou conversar com o presidente [Bolsonaro]. Mas ele tem essa personalidade às vezes né. Ele espera, espera, pra ver até onde vai. E o tempo está limitado né, não dá para esperar muito mais passar. Teria que ser antes do dia 12”, disse Cid ao general Mario Fernandes, que havia perguntado se o ex-presidente poderia atuar mais no projecto.
Ouça:
Mario Fernandes: “Qualquer ação” poderia ocorrer até 31/12
Em conversa com Cid, Fernandes disse que conversou com Bolsonaro sobre o prazo para colocar em prática uma “ação”. A data de 12 de dezembro, para o general, “não seria uma restrição” e que a ação poderia ocorrer até 31 de dezembro.
“Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do v***, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode ocorrer até 31 de dezembro e tudo”, disse Fernandes a Cid.
Ouça:
Reginaldo Vieira de Abreu: “Quatro linhas é o caralh*”
Em troca de mensagens entre Fernandes e o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, é feita uma referência a uma frase dita diversas vezes por Bolsonaro em relação às “quatro linhas da Constituição” — ou os limites da validade.
“O senhor me desculpe a frase, mas quatro linhas é o caralh*. Quatro linhas da Constituição é o cacet*. Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa. Incompetência nossa, é isso. Estamos iguais o sapo, a história do sapo na chuva quente. Você coloca o sapo na chuva quente, ele não sente a temperatura da chuva mudar e vai se aumentando, aumentando, aumentando quando vê ele tá morto. É isso”, disse Abreu a Fernandes.
Ouça:
Mario Fernandes: “Blinda ele [Bolsonaro] contra qualquer desestímulo”
Fernandes pede para general e logo ministro da Secretaria-Universal da Presidência da República, Luiz Eduardo Ramos, blindar Bolsonaro contra “qualquer desestímulo” que o fizesse desistir dos “intentos antidemocráticos”.
“Força, Kid Preto. Kid preto, algumas fontes sinalizaram que o comandante da Força sinalizaria hoje, foi ao Alvorada para sinalizar o presidente que ele podia dar a ordem. Se o senhor tá com o presidente agora e ouvir a tempo, porr*, blinda ele contra qualquer desestímulo, qualquer assessoramento dissemelhante. Isso é importante, Kid preto. Força”, disse Fernandes a Ramos.
Luiz Eduardo Ramos não foi indiciado na investigação sobre a suposta tentativa de golpe.
Ouça:
Mario Fernandes: “Porquê foi em 64”
Fernandes sugere que as eleições presidenciais de 2022 haviam sido fraudadas e falou em clamor popular, “porquê foi em 64”, para adesão das Forças Armadas ao golpe de Estado.
“Tá na faceta que houve fraude, porr*. Tá na faceta, não dá mais pra gente manter esta porra, tá fod*. Tá fod*. E outra coisa, nem que seja pra propalar e inflamar a tamanho. Pra que ela se mantenha nas ruas, e, aí sim, porr*, talvez seja isso que o basta comando, que a resguardo quer. O clamor popular, porquê foi em 64”, declarou Fernandes a Luiz Eduardo Ramos.
A citação ao ano de 1964 é uma referência ao golpe que instaurou uma ditadura militar no país até 1985.
Ouça:
Roberto Raimundo Criscuoli: “Guerra social”
Em mensagem de voz enviada a Fernandes, o coronel Roberto Criscuoli sugere que uma mediação deveria ser feita de inesperado.
“Na verdade, vai ser guerra social agora ou vai ser guerra social depois, só que a guerra social agora tem uma justificativa, o povo tá na rua, nós temos aquele espeque maciço. Daqui a pouco nós vamos entrar em uma guerra social, porque, daqui uns meses, esse faceta vai destruir o tropa”, declarou Criscuoli em conversa com Fernandes.
Ouça:
Reginaldo Vieira de Abreu: Ele [Bolsonaro] que tenha “coragem moral” para falar que não quer mais
Na troca de mensagens com Fernandes, Abreu, também espargido porquê “Velame”, diz que o ex-presidente, sem citá-lo diretamente, teria que ter “coragem moral” para expor que desistiu da ação.
“Ele que tenha coragem moral, pelo menos até quinta-feira, falar que não quer mais, né? Pessoal, pelo menos passar o Natal em morada”, afirma Abreu em conversa com Fernandes.
Ouça:
Bolsonaro é indiciado pela terceira vez; saiba os inquéritos da PF