A dança dos hormônios que acontece no corpo feminino desde a puberdade traz impactos em todos os aspectos da saúde das mulheres, inclusive em relação à qualidade do sono. Essa foi uma das principais conclusões de uma pesquisa publicada recentemente na revista científica Sleep Medicine Reviews.
Mas qual a relação do sono com essas alterações hormonais? São muitas. Por conta do aumento da progesterona durante a mênstruo, por exemplo, ocorre também o aumento da sonolência diurna. Já as cólicas também influenciam, mormente quando são mais intensas e podem levar a interrupções do folga.
“As mulheres passam por diversas fases de características do sono durante a vida em função dos diferentes períodos reprodutivos”, explica a ginecologista Helena Hachul de Campos, professora da disciplina de saúde da mulher da Faculdade de Medicina do Hospital Israelita Albert Einstein.
“A regularidade do ciclo também conta, pois dados mostram que as mulheres com ciclo irregular têm duas vezes mais risco de sofrerem com problemas para dormir e de qualidade do sono”, diz Hachul, que é professora livre-docente director do setor de Sono da Mulher da Universidade Federalista de São Paulo (Unifesp) e pesquisadora do Instituto do Sono.
Quem convive com a síndrome pré-menstrual, popularmente conhecida uma vez que TPM, pode ter a qualidade do folga ainda mais comprometida, aumentando a insônia e a sonolência durante o dia, mormente por conta das oscilações de humor, que deixam a mulher mais ansiosa, por exemplo. Mas isso varia de pessoa para pessoa, de ciclo para ciclo e conforme o momento de vida em que ela se encontra — quanto mais estressada, por exemplo, mais dificuldade em relação ao sono.
Há de se considerar ainda os ovários policísticos, síndrome muito prevalente em mulheres do período reprodutivo. A literatura científica mostra que mulheres que sofrem com ela costumam ter mais excesso de peso e síndrome metabólica, fatores que estão associados à apneia obstrutiva do sono, distúrbio que culpa interrupções na respiração durante o folga.
A gravidez é outra temporada que mexe bastante com o sono. O primeiro trimestre normalmente é muito frenético, já que envolve enjoos e idas frequentes ao banheiro. Com a chegada do segundo trimestre, as coisas tendem a se acalmar. No terceiro, o aumento abdominal provocado pelo incremento do bebê começa a pressionar a varíola, obrigando a gestante a transpor da leito mais vezes para fazer xixi, além de promover dificuldade respiratória, que deixa o sono fragmentado.
As grávidas com pressão subida ainda têm mais risco de suportar com apneia. “Tapume de 46% das gestantes têm alguma queixa do sono e quanto mais frequentes elas forem, mais risco de acontecerem piores desfechos neonatais”, alerta Helena Hachul.
Período crítico
Mas é com a chegada da menopausa que o sono das mulheres costuma mudar para valer. “As alterações são mais evidentes e constantes em seguida a grande queda hormonal que acontece nessa temporada”, diz a pneumologista e perito em medicina do sono Luciane Impelliziere Luna de Mello, professora do curso de pós-graduação em medicina do sono do Hospital Israelita Albert Einstein e médica do Instituto do Sono, ligado à Unifesp.
Além dos fogachos (ondas de calor) e do aumento da frequência urinária, que podem deixar o folga fragmentado, as mulheres têm que mourejar com alterações sociais e emocionais, uma vez que depressão, sofreguidão e síndrome do ninho vazio, provocada pela saída dos filhos de morada, entre outras.
Existem ainda evidências científicas que apontam que os hormônios femininos têm um papel importante no relógio biológico. “Por todas essas razões, a incidência de insônia, que antes da menopausa era de 30%, pula para 60% na pós-menopausa”, relata Hachul.
A apneia também é um problema mais frequente nessa temporada da vida. “A mudança na distribuição de gordura corporal particularidade desse período, que faz com que ela passe a ter um acúmulo maior na região da cintura, é determinante, pois a cada centímetro a mais de periferia abdominal, o risco de apneia aumenta em 5%.”
Sobrecarga também prejudica o sono
As mulheres também costumam, em diferentes fases da vida adulta, reunir mais tarefas do que os homens. A obrigações e preocupações com o trabalho, a morada e os filhos fazem com que elas, na maioria das vezes, tenham menos tempo para dormir. E, quando chega a hora do folga, muitas não conseguem relaxar, pois ficam pensando em tudo o que têm que fazer no dia seguinte.
Além das questões práticas, existem as emocionais que também tiram o sono da mulherada. “Elas são mais sensíveis a distúrbios de humor, uma vez que depressão e sofreguidão, e às questões ligadas ao acúmulo de tarefas, o que faz com que sofram com mais insônia por culpa desses fatores”, afirma Mello.
Por todas essas razões, médicos precisam ter um desvelo extra ao estudar e tratar o sono das mulheres. “Temos que avaliá-las uma vez que um todo, verificando uma vez que estão seus hormônios e seu ciclo menstrual, qual é o seu momento de vida, com quem mora, se divide as tarefas, se toma remédios, se tem outras doenças, entre muitos outros fatores, pois tudo isso influencia”, afirma Hachul.
“Outra questão que temos que levar em conta é que elas, muitas vezes, subestimam as questões respiratórias que desencadeiam a apneia, o que, em muitos casos, só identificamos ao fazer uma polissonografia, revista que analisa o sono”, complementa Mello. Isso é preocupante porque, mesmo com quadros mais leves, as mulheres já apresentam sintomas uma vez que ronco e pausas respiratórias, que podem provocar engasgos e breves despertares.
No que diz saudação ao tratamento a distúrbios do sono, além das estratégias medicamentosas, que devem ser avaliadas individualmente, também devem ser considerados os cuidados relacionados à higiene do sono. Entre eles estão: dormir sempre no mesmo horário, fazer refeições leves à noite, tomar moca unicamente até o horário do almoço, não permanecer no celular ou no computador até tarde, evitar exercícios físicos intensos perto da hora do folga, deixar o quarto escuro e só ir para a leito na hora de deitar. “Também é importante se hidratar muito e ter uma alimento saudável, já que, para uma boa noite, é principal termos um bom dia também”, conclui Hachul.
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